segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Estar à altura da ocasião!

Hoje é dia de derby! Com os nossos maiores rivais de sempre. Era assim há 100 anos e assim continuará a ser daqui a outros 100. O Sporting Clube de Portugal e o Sport Lisboa e Benfica disputam desde 1907 o panteão nacional das memórias colectivas associadas ao futebol.

O primeiro jogo foi ganho pelo Sporting mas com o Benfica a marcar 2 golos (o Pai Fundador Cosme Damião estreou-se da pior forma, marcando um auto-golo) num jogo que foi disputado à chuva em Carcavelos e arbitrado por um juíz...inglês!

De lá para cá a rivalidade nunca mais abrandou, até porque foram muitos os episódios fora de campo que apimentaram a relação entre os verdes e vermelhos. Muitas vezes a grandeza de um fez-se pela forma como o adversário se bateu. Quer um, quer outro tiveram tempos de glória e alturas mais cinzentas, mas mesmo quando um dos rivais atravessa um período de crise, este é o jogo! Esqueçam o facto de o Sporting estar a atravessar uma das suas maiores crises desportivas e financeiras. Coloquem a tabela classificativa na gaveta. Porque hoje jogamos em casa deles e mesmo tendo esperanças nulas no campeonato, mesmo estando a fazer exibições fraquinhas, o clube do leão vai entrar em campo para disputar o jogo do campeonato! Vai ser sempre um jogo difícil para qualquer uma das equipas.

Por isso apenas espero que não existam casos que manchem o espectáculo, que as 3 equipas em campo estejam à altura do jogo e da história deste derby. Que ganhe a melhor e aquela que mostrar em campo ter os argumentos necessários para vencer. Ao árbitro pede-se isenção e qualidade técnica para tomar as decisões correctas (e não aquelas que ache serem as mais indicadas para outros intervenientes).

Aos jogadores do meu clube, qualquer que seja o 11 em campo, peço acima de tudo humildade para reconhecerem no Sporting uma equipa perigosa e ferida no seu orgulho (logo diferente de todas as que jogaram esta época), concentração do 1º ao últimos minuto, capacidade de sacrifício para correr mais e ser mais eficaz a atacar e defender que o adversário. E saibam honrar a camisola e o emblema que vão vestir esta noite, dedicando-lhe tanto como o que cada um de nós, benfiquistas, faz. Fazendo isto, metade do caminho está feito.

Divertem-me e preocupam-me os que pedem grandes goleadas e grandes exibições para o jogo de hoje. Eu fico satisfeito pela vitória. Porque também quero que o Sporting dê luta e mostre que tem raça para ser muito mais do que alguns dirigentes e adeptos têm procurado fazer passar cá para fora. O nosso adversário (nunca inimigo) é o Sporting que honra os seus pergaminhos, que está à altura da sua história. É a equipa onde jogaram os 5 violinos, onde surgiram grandes valores do futebol nacional e onde se guarda memória de jogos e momentos marcantes da nossa vida desportiva colectiva.

Por exemplo, a 14 de Maio de 1994 o Benfica (treinado por Toni) visita o Sporting (liderado por Carlos Queirós), na fase final do campeonato. O Benfica lidera mas com exibições titubeantes. O Sporting vem em crescendo de vitórias. No início da época, fruto de dificuldades financeiras, o clube de Alvalade leva da Luz Paulo Sousa e Pacheco (quase o fazendo também com a jóia da coroa, João Pinto). A Águia ferida entra mal no jogo e parece confirmar todos os prognósticos que apontavam o clube do Leão como favorito para o jogo e para o campeonato. O Sporting marca primeiro aos 7 minutos, instala-se a euforia e mantém uma pressão brutal sobre o Benfica que parece tremer e não conseguir dar luta. Mas de repente um jogador surge e muda todo o panorama, João Vieira Pinto que fez nesse jogo a sua melhor exibição de sempre:



O futebol e os grandes jogos são assim. Há sempre um jogador que se empolga com o momento, que vê nos 90 minutos a sua oportunidade para se juntar às glórias do passado. E isto reduz a cinzas qualquer prognóstico que se faça. Volto a sublinhar o que já escrevi no passado: para valorizar o nosso campeonato e as nossas vitórias, o Benfica precisa de adversários fortes. Precisamos um Sporting que lute pelo título, que nos desafie, que nos obrigue a correr mais e a ser melhores que eles. O nosso passado glorioso fez-se também porque tínhamos este adversário para bater.

Por tudo isso, espero um grande jogo logo, entre duas equipas de nível e estatuto idênticos. Não perceber isso é entrar em campo a perder. Espero que a equipa técnica e jogadores percebam isso mesmo para não nos arrependermos

Pedro Martins

PS: Para quem é jornalista e comentador, o Sporting-Benfica é um derby porque é um encontro entre 2 equipas da mesma cidade. Já um Benfica-Porto ou Sporting-Porto não podem ser apelidados de derby's porque sendo jogos clássicos, são entre equipas de diferentes locais... Há que chamar as coisas pelos nomes, senhores...

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