sexta-feira, 15 de março de 2013

A Saudade

Fazer parte de um grupo de benfiquistas que escreve num blog sobre o nosso grande amor tem coisas boas. Há outras que por vezes nos fazem pensar em desistir e nunca mais voltar a escrever uma linha...

Quando isso acontece dou por mim a reler algumas mensagens que vamos recebendo de quem nos lê. E existe uma que me marcou profundamente.

Tínhamos começado o A Nossa Mística há poucos meses, ainda em fase de lançamento e de perceber até onde queríamos ir. Liga dos Campeões, 18 de Outubro de 2011. Depois de um empate em casa com o Manchester United (1-1) e uma vitória fora com o FC Otelul, o Benfica deslocou-se à Suiça e venceu por 2-0 (Golos de Cardozo e de Bruno César).

Nessa noite recebo um mail de um leitor que nos seguia a partir da Suiça. Tinha feito mais de 300 Km para ir ver o jogo, tinha vibrado com a equipa e trazia no coração um pouco do país que tinha deixado quando emigrou. Estava em Genebra há 5 ou 6 anos, onde conseguira encontrar uma oportunidade que o seu Portugal tardava em lhe dar. Falava do quanto lhe tinha custado deixar as raízes, a família, os amigos, do pouco que lhe aquecia o coração nas geladas terras helvéticas. E da forma como o futebol e em especial, o nosso Benfica o reconfortava, lhe dava um pouco mais de orgulho em ser português numa terra estranha.

Vencer os Suíços na terra deles era muito mais que 3 pontos para a Liga dos Campeões. Era uma afirmação, um levantar da cabeça com orgulho perante situações de subserviência, um olhar de esperança entre as lágrimas de saudades da terra. Era ter mais uma razão para estar ali, longe de tudo.

Aquelas linhas calaram bem fundo e marcaram. Senti que não escrevemos no A Nossa Mística apenas por nós mas porque o nosso denominador comum é algo que não se explica, apenas se compreende quando estamos com outros que sentem o mesmo. Passaram quase 2 anos e tenho visto muitos amigos, demasiados até, serem obrigados a emigrar para ganharem direito a uma oportunidade. Por isso, o respeito por qualquer pessoa que larga tudo para ir noutro país encontrar um sentido para a sua vida, é enorme!

O Sport Lisboa e Benfica é isto. Estar a milhares de quilómetros de Lisboa e ainda assim colocar o cachecol vermelho para ouvir um relato e sofrer 90 minutos. A nossa identidade é dos que estão perto mas também dos que, estando longe de Portugal, sentem e sofrem como se aqui estivessem. Por isso somos diferentes de todos os clubes do mundo, somos tão grandes como o mundo. Onde está um benfiquista, está um português. E estes, sabemos nós, há-os pelos quatro cantos do mundo.

Esta 6ª-Feira, muitos emigrantes em França vão trabalhar com um sorriso nos lábios. Mesmo não sendo benfiquistas, um clube português, daquele país em crise e catalogado por muitos como pobre, gastador e incumpridor dos seus compromissos venceu os orgulhosos franceses. Esses emigrantes vão enfrentar os colegas e patrões gauleses com a vitória estampada no rosto e as saudades, só hoje, vão custar um pouco menos. Esta vitória é por eles e para eles!

Um abraço sentido a todos os benfiquistas emigrantes. Hoje isto foi para vocês!

Pedro Martins

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