quarta-feira, 18 de julho de 2012

Deixem jogar o Mantorras...



Esta frase ficou célebre como famoso ficou este jogador que podia ter sido um dos melhores de sempre não fosse o joelho e a incompetência de alguns que não souberam estar à altura do clube e do potencial do angolano.

Cresci como benfiquista durante a década de 90. Cada pré-época era vivida com a esperança de que "este ano é que é" para, lá para a 5ª ou 6ª jornada, tudo se esfumar mais depressa que uma tocha na bancada em tarde chuvosa de Inverno. Sou do tempo em que, excepto João Vieira Pinto (que foi dispensado por Vale Tudo), os "plantéis" eram um deserto de talento e virtuosismo para a bola.

Depois Vale e Azevedo foi-se, veio Vilarinho e depois Vieira. E pelo meio Pedro Mantorras, estrela em ascensão do Alverca e de Angola (quando ainda havia Alverca clube...) rumou à Luz. Da triste "estória" de vida e origem humilde, a talento, força e tenacidade que colocava em cada jogada, tudo fazia antever que aquele diamante em bruto estava a caminho de se tornar uma das jóias maiores do nosso "girabola".

Mas o caminho de Pedro nunca foi fácil. Depois de uma 1ª época com 13 golos no campeonato e um Barcelona à espreita, veio a malfadada lesão no joelho direito. Com a sua técnica e velocidade, Mantorras foi sempre um alvo para os adversários (ficou célebre a frase "Deixem jogar o Mantorras", dita pelo mesmo depois de tantos jogos a sofrer na pele as duras entradas e marcações dos adversários).

A recuperação da operação ao joelho foi lenta e o regresso, esperado ansiosamente por tantos, foi feito cedo demais pelo que as recaídas sucederam-se a um ritmo elevado. Nunca mais regressou em pleno e mesmo suplente, foi determinante com alguns golos que nos deram o título no ano de 2004/2005. O técnico italiano na altura chegava a fazer Pedro Mantorras levantar-se do banco e fazer o aquecimento apenas para levantar o espírito dos adeptos que deliravam com a possibiliade de o angolano entrar para voltar a ser o que tinha sido.

Não voltou... Foi campeão, arrastou-se mais umas épocas em que se mantinha a esperança de um regresso mas, pouco a pouco, isso passou a ser uma distante miragem. Ainda marcava alguns golos (no tempo de Quique...), o coração e o querer tinham substituído a velocidade e a técnica mas o joelho direito não o deixava fazer mais que 10/15 minutos de cada vez.

Jorge Jesus, campeão na primeira época, sabia que não podia manter o angolano na equipa e afastou-o ao ponto de não ter celebrado esse título (não chegou a fazer um único minuto).

Mantorras ficará sempre na memória como o menino irreverente que tinha tudo contra ele e ainda assim vingou no futebol profissional. E quando este lhe pregou uma rasteira, Pedro fintou novamente o destino para regressar, coxo, mas com mais alma e qualidade que muitos que por lá passaram.

Hoje temos o privilégio de nos despedirmos dele, em campo. Agradeço ao Pedro a magia que espalhou quando jogava em pleno, a respiração sustida cada vez que arrancava em direcção à baliza, o olhar perdido dos adversários quando ele se escapava. E a alma que nos devolveu, já com o joelho esfrangalhado, cada vez que entrava para 15 minutos em que nos fazia acreditar que tudo é possível e que o jogo termina apenas quando o árbitro apita e nunca antes...

Vou contar a sua estória ao meu filho, quando formos a caminho do estádio. Para ele saber que a vida é injusta, tem mais curvas que rectas e que sempre que estamos lá em cima há sempre algo a puxar-nos para baixo. Mas também para ele sentir que mesmo quando estamos a perder e a esperança é nenhuma, qualquer um de nós pode ser Mantorras e entrar a 15 minutos do fim para dar a volta ao jogo da vida!

Obrigado Pedro!!!

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