domingo, 24 de julho de 2011

Amor Eterno

Todos nós nas nossas relações afectivas, temos altos e baixos, momentos de exaltação e outros de profunda tristeza. No futebol, e na minha relação com o Benfica, isso também já me aconteceu...

Lembro-me, e entre aqueles que assisti ao vivo, dos 7 em Vigo, e do triste comunicado do JVP no dia a seguir, de 4 no Restelo no ano do velho Trap, de levar 3 na Luz da Académica e mais recentemente dos 5 no Dragão e da eliminação para a Taça, contra os Corruptos...

Mas um que me ficou na memória, foram os 5-3 em Alvalade para a Taça, depois de estarmos a dar 2 ao intervalo e que pelo o que estávamos a jogar, até sabiam a pouco...Bem sabemos o que que foi aquela segunda parte!

A chover torrencialmente, e molhado até aos ossos, tento acender um cigarro...Tschc, tschc. O isqueiro falha. Nem um cigarro consigo acender. Quando levanto os olhos, a visão que antecipei quando o jogo acabou, foi o olhar paternalista e ao mesmo de gozo que os meus amigos iriam ter assim que lhes aparecesse á frente, estilo, tens que largar isso.
E aí percebi. Foi como se um grupo de amigos me dissesse que tinha que ser, que eu tinha que aceitar o divórcio. Que aquela não era a mulher para mim. O paralelismo fazia todo o sentido: imaginem o cenário da chuva lá fora a bater na janela, eu com um cigarro que não acendia e amigos a dizerem-me que eu não podia sofrer tanto. Parecia um divórcio.
E no fundo, foi como se fosse. Um quero o divórcio, assim a seco. Como se fosse possível deitar estes anos todos de relação profunda fora. 32 anos depois, o Meu Clube quis deixar-me. Tudo bem, já tínhamos tido discussões e arrufos, mas nada assim tão grave.

Foi terrível. Não consigo descrever a sensação. Foi muito pior do que tudo o que já senti na vida. Foi orgânico, visceral, doentio. Às tantas, uma sensação de calma, como se esperasse morrer no segundo a seguir. E depois, as recordações. Como numa relação, depois de levarmos o adeus tão repentino, tão lancinante, ficamos a ver os momentos bons a passar em repetição. Foi igual. Vi o meu Benfica, o Benfica que eu amei desde pequenino, em imagens, como se fossem fotografias a serem rasgadas pela gentinha que usava as camisolas que eu aprendi a amar. A amar. É de amor que se trata. Com as letrinhas todas.
Tens que deixar isso. Mas como é que se deixa o amor? Há um botão? Dá para desligar? É só dizer: ok, então cada um segue a sua vida, ficamos só amigos ?
Como é possível? Como é possível a vida poder ser tão má? Imaginei-me aquele amante desesperado que se humilha mas eu amo-te, eu perdoo-te, podemos ser felizes e a seguir se enraivece vai-te embora! nunca mais voltes! que grande estúpido fui! e que, por fim, se desfaz em lágrimas, de joelhos, no chão. O degredo absoluto. Não chorar, apenas. Soluçar, de tanta raiva, de tanto desespero, de tanta mágoa.
Vá lá, há coisas piores. E por muito chocante que isto pareça, não consegui nomear uma - só uma - no meu cérebro.
Foi horrível. Foi demasiado mau. Perceber que o Meu Benfica, o das camisolas vermelhas, o do Bento, do Alvaro, do Veloso, do Paneira, do Mozer, e de tantos outros, tinha sido substituído por...aquilo, foi uma coisa demasiado dura para vos conseguir descrever.

Quando o cigarro finalmente se acendeu, fiquei parado a olhar para o vazio. O Meu Benfica, lá ao fundo, olhava para mim. E percebi, cabal e fatalmente, que nunca nos vamos poder divorciar, e que estou sujeito a todos os maus tratos que forem necessários.

ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE!

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