sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Mística do Estádio da Luz



Tal como as pessoas, cada lugar tem a sua alma feita do tempo, da história, das emoções que aí se viveram. Por exemplo, uma catedral do Séc. XII carrega em si tudo o que nela aconteceu em anos e anos de história e estórias.

O mesmo se passa com um estádio de futebol. Em Wembley, Nou Camp ou no Santiago Bernabeu sente-se o peso do passado, das vitórias, as emoções e da Mística em cada momento. Por isso quando o antigo Estádio da Luz foi abaixo, muitos dos que se habituaram a ver futebol naquela catedral deixaram de "ir à bola". Sentia-se essa alma assim que entrávamos naquele palco dos sonhos. Pouco importava se nos sentávamos na pedra fria ou à chuva no Inverno sem qualquer comodidade. Ali tinham jogado Eusébio, Águas, Coluna, Torres, Simões, Humberto, Artur Jorge, Toni, Néne, Diamantino, Chalana, Bento, entre tantos outros. Sentia-se o peso, aquele era "o" Inferno Vermelho.
O novo Estádio da Luz ainda não é assim...falta-lhe essa alma feita de tempo, grandes vitórias, emoções ao rubro. Sendo novo, tem todas as condições para ver futebol mas falta-lhe o peso de um percurso de vitórias consistente que ainda não existe.

Por isso gosto de acreditar que sempre que o Benfica joga em casa, para compensar essa falta de Mística, as antigas glórias que já não estão neste mundo se reunem. Sentam-se na ponta da pala por cima do relvado e ali ficam durante os 90 minutos a ver o jogo como nós. Puxam pela equipa, falam do árbitro, do onze inicial, discutem a táctica e o que fariam se jogassem. Como Statler e Waldorf, dos Marretas, maldizem os de agora, o futebol-negócio de hoje, os jogadores mercenários. os treinadores matreiros e a falta de Mística. Mas no fundo sentem  inveja daqueles que ainda podem, na sua pálida juventude, jogar. Fecham os olhos e pensam no seu tempo, nos seus jogos, dizem que antigamente é que era e os olhos brilham de saudade. Mas sofrem como nós, ali sentados.

Quando termina um jogo, lá fazem os seus comentários finais, despedem-se uns dos outros ("Até à próxima!") e vão à sua vida... Como nós uns ficam mais tempo que outros, o tempo que demora a ir e voltar às memórias passadas.

Esta Quarta, antes do jogo, o Sol punha-se por detrás da pala e naquela luz que irradiava tenho a certeza que mais uma vez os vi ali, à espera, na antecipação do jogo... Parte da vitória também se deve a eles!

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