Isto de ir ao baú das memórias tem tanto de bom, pelo recordar, como de penoso porque, não sendo velho, percebe-se que já sou algo antigo. Mas essa antiguidade permite-me dizer algo que outros não poderão nunca dizer: Eu vi jogar o Eusébio! Ao vivo e a cores, no velhinho, imponente e desaparecido Estádio da Luz.
O meu benfiquismo não é hereditário embora possa ter algo de genético. Apesar do meu avô ser adepto do Benfica, o meu pai e a grande maioria dos familiares mais próximos eram sportinguistas. Mas eu sempre gostei de vencer, de estar do lado dos melhores, razão pela qual decidi ser, desde que me lembro, adepto do Sport Lisboa e Benfica. Tal ambiente adverso-lagarto só agudizou o inevitável conflito de gerações e tornou mais robusto e mais orgulhoso o meu sentimento de ser Benfica.
Mas regressemos à época de 1973-74. Assolado por lesões, Eusébio completava uma das suas últimas épocas ao serviço do Benfica, tal como Simões, Jaime Graça ou o grande José Henrique que se aprestava para ceder o lugar a outra lenda das balizas – Manuel Galrinho Bento! Na equipa do Benfica haviam despontado e já pontificavam jogadores como Shéu, Toni, Jordão, Tamagnini Néné e, um dos melhores centrais portugueses de sempre, Humberto Coelho.
Tanta Mística numa só equipa!
Viviam-se tempos conturbados que culminariam na Revolução dos Cravos. Nessa época não fomos campeões mas o país ganhou a Liberdade. Porém, o meu momento marcante, a minha histórica "estória", foi a 20 de Abril de 1974, cinco dias antes do vermelho dos cravos invadir as ruas, o encarnado das “papoilas saltitantes” revolucionou a minha vida. Neste dia, o Benfica defrontou a Académica e arrasou com 5 golos sem resposta. Mas acima de tudo: Eu vi o Eusébio jogar. Uma semana depois, Eusébio da Silva Ferreira marcaria o seu último golo pelo Benfica.
Não me recordo do onze inicial, nem tão pouco quem marcou os golos. Na bruma da memória, e decorridos tantos anos e tantos golos do Benfica, recordo-me sim que foi necessária muita insistência para convencer o meu pai (sportinguista lembram-se?) a me levar ao jogo. Na altura, o meu avô tinha um talho no Mercado e ali existia um grupo de indefectíveis e fervorosos adeptos benfiquistas com quem o meu pai discutia o futebol e não só. Foram eles que me ajudaram na tarefa de persuadir o meu progenitor e que me acompanharam em tão inesquecível aventura.
Com quatro anos eu tinha professado a religião benfiquista e acabara de ser baptizado na Catedral. A partir daí foram inúmeras as romarias, incontáveis as alegrias, aliás, nas 3 épocas seguintes, o Benfica alcançou mais um tri e eu lá ia crescendo, em tamanho e em benfiquismo, com o valioso contributo do Américo do Talho e seus amigos levando-me ao Estádio e do meu saudoso pai, a demonstrar a generosidade do seu ser, fazendo-me sócio e pagando as quotas.
Mas o Benfica não é só futebol e, no meu caso particular, não podia deixar de referir o basquetebol e assinalar dois outros momentos marcantes: o Pavilhão da Luz a cantar “cheira bem, cheira a Lisboa” nas grandes noites europeias da magnífica equipa de Mário Palma (campeão 9 vezes consecutivas) e a primeira vez que joguei neste Santuário abrigado sob o 3º anel. Mas disso falarei numa outra crónica.
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