O Asdrúbal
Não é uma pessoa, não é um pássaro, é o Asdrúbal. Espécie autóctone que habita no 3º anel do Estádio da Luz e que se evidencia pelos rituais que pratica em dia de jogo. Tal como muitas outras espécies, o Asdrúbal torna-se especialmente exuberante quando a bola começa a rolar no relvado. Qual camaleão, esta espécie indígena vive de forma natural entre os seus com comportamentos socialmente enquadrados nos padrões normais da espécie congénere. Podemos encontra-lo no Centro Comercial com a família ou a passear pelos subúrbios embora, nestas situações, seja difícil detectar um Asdrúbal. Os mais atentos, no entanto, conseguem reconhecer alguns comportamentos denunciadores de um potencial Asdrúbal: palito ao canto da boca, figura esguia apesar de comer desalmadamente, fácies ruborizado, com os vasos capilares a assomarem a tez, fruto dos ataques coléricos e de um tinto marado. Um metabolismo que, qual Dr. Jekyll, transforma esta espécie em Mr. Hyde, versão Asdrúbal.
A metamorfose, cuja explicação científica está por apurar, dá-se assim que se acomoda no seu lugar no Estádio da Luz. Os olhos injectam-se de sangue, as veias sobressaem-se, o olhar turva-se e foca-se no relvado, o auricular debita o relato radiofónico e nada mais à sua volta interessa a não ser o que se passa no campo. Eis o Asdrúbal!
E o Asdrúbal é o anti-adepto. Sofre pelo Benfica mas tudo é mau no clube do seu coração. A missão dele é a de arrasar com qualquer coisa que mexa. Jogadores, treinadores, staff, bombeiros, apanha-bolas, colegas de bancada ou até o vendedor de couratos que não fez a sandes a seu gosto. Desde que se acomoda na cadeira de plástico tem como fim único vociferar impropérios contra este ou aquele jogador, nutrindo “carinho” especial por alguns, mimar os árbitros e toda a sua família, com particular incidência para a mãezinha destes, que tal como os ditos, partilham a mesma profissão numa qualquer esquina de rua, debitar tácticas geniais e “convidar” o treinador a ir para o alternadíssimo e digníssimo C… Pénis! Mas o Asdrúbal nutre um afecto especial pelos dirigentes e pelo Presidente, esses personagens que vivem à custa da mulher que vende o corpo, ou mais simplesmente, “esses chulos!”
Para esta espécie de parasita da bancada, o facto de estar na presença de crianças é-lhe indiferente. Para ele os miúdos precisam de “saber a verdade” nem que seja à custa dum verdadeiro compêndio de vernáculo “tuguês”. Nunca foi brindado com um tabefe. Talvez por lhe acharem uma certa piada, talvez por não o levarem a sério mas, principalmente, porque ainda há respeito por casos do for psiquiátrico.
O óleo de fritura aliado aos constantes e irascíveis acessos de cólera acabarão por causar um enfarte do miocárdio ao Asdrúbal e levá-lo desta para melhor. Tem consciência disso e como ambição suprema, acreditando que por vezes o consegue, que alguém o oiça lá em baixo, junto ao relvado. O Asdrúbal é do contra e de contradições! É do Benfica mas quando o Benfica ganha, o Asdrúbal encontra sempre um defeito, um problema; quando o Benfica perde, o homem dá largas à sua fúria e do alto do seu pretenso benfiquismo verbaliza razões e aponta soluções, cognominando os responsáveis com ternos substantivos. Estudos científicos e análises sociológicas comprovaram há muito que esta espécie de adepto contorce-se de forma acrobática e definha em anos em que o Benfica é Campeão. Mas mesmo nestas alturas é capaz de encontrar motivos de crítica.
É do contra e pronto! A culpa é “deles”! “Deles?” - Perguntará qualquer um – “Deles quem?” Que interessa! É deles e pronto! E “eles” têm que ser corridos, enxovalhados… Mas quem? Ora essa… “Eles! “Eles” e o “sistema”, eternos culpados de tudo e de nada ou, como diria alguém, “vocês sabem do que estou a falar!”
Muito bom!!!!
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