"Once more unto the breach, dear friends, once more;
Or close the wall up with our English dead.
In peace there's nothing so becomes a man
As modest stillness and humility:
But when the blast of war blows in our ears,
Then imitate the action of the tiger;”
“Henrique V”, 3º Acto, Cena I - William Shakespeare
Durante a Guerra dos 100 Anos (1337 a 1453) entre ingleses e franceses, o Rei Henrique V (1386-1422) de Inglaterra reuniu um vastíssimo exército que, desembarcado na Normandia, permitir-lhe ia bater os franceses e reclamar o trono de França.
Os Franceses, em desvantagem numérica e vendo aquela força tremenda, abandonaram a guerra aberta e refugiaram-se nas suas cidades fortificadas, optando por tácticas de guerrilha.
Sem inimigo para combater directamente, Henrique V foi obrigado a cercar a cidade de Harfleur. Durante semanas o seu exército poderoso foi sendo desgastado numa guerra de cerco para a qual estava pouco preparado. A doença e o cansaço apoderaram-se das tropas. No auge da batalha e quando tudo parecia incerto, Henrique proferiu aquelas palavras e com aquele discurso moralizou as tropas que finalmente conquistaram a praça-forte francesa.
Algumas semanas mais tarde e novamente numa situação desesperada, os ingleses com os seus poderosos arcos bateram a pesada cavalaria francesa na batalha de Azincourt. E Henrique pôde regressar vitorioso a casa, com o trono de França garantido.
Para antecipar o primeiro jogo de campeonato não encontro analogia mais feliz com o momento que vivemos no Benfica. Temos um conjunto de jogadores fenomenais que em teoria, bate qualquer equipa do campeonato português. Para sermos equipa precisamos de mais tempo, para integrar novos jogadores e adaptar o conjunto às capacidades de cada um deles. Mas numa luta igual, não ficamos atrás de ninguém. Ora acontece que, tirando o FC Porto, nenhuma equipa comete a loucura de enfrentar, de igual para igual, o Benfica. Vão refugiar-se nas suas “muralhas”, defender o mais possível e espreitar o contra-ataque aproveitando algum desequilíbrio do momento. Quando estivermos cansados, fatigados e com menos atenção irão procurar desferir os seus golpes.
A força e a Mística da equipa não se vê quando começa o jogo ou quando somos 11 contra 10. É quando tudo parece incerto, quando jogamos com menos um jogador e ganhamos, quando estamos empatados para lá dos 90 minutos e marcamos. Aí sim, descobre-se a raça de que somos feitos!
Amanhã, quando entrarmos em campo contra o Gil Vicente, começamos uma longa guerra de 30 batalhas. 2700 minutos, 90 pontos possíveis contra 15 equipas que, contra o Benfica, se ultrapassam em esforço e capacidade. Somos o alvo a abater por todos. Vamos enfrentar estádios hostis, relvados com poucas condições, calor, chuva, frio e vento. Vamos ter árbitros maus e menos maus, outros assim-assim… Mas se em cada jogo formos humildes, lutadores, guerreiros, se colocarmos em campo a Mística do Benfica, os nossos valores e o que sabemos fazer melhor então ninguém nos vai parar.
Sou muito crítico das arbitragens e quem jogou futebol sabe que a acção de um árbitro pode desequilibrar uma partida mesmo sem se “enganar” nos critérios técnicos e disciplinares. Estou convencido que vamos ter muito que falar este ano sobre árbitros. Mas uma equipa que joga muito bem e marca mais 2 ou 3 golos por jogo que o seu adversário ultrapassa qualquer má arbitragem.
“Once more unto the breach, dear friends, once more…”
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