segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um Espião no Dragão - 1ª Parte, A Viagem


"Go with the flow, blend in. Maintain a natural pace"
The Moscow Rules - CIA

No final do Benfica-Manchester, recebo uma mensagem: "Queres vir ao Porto ver o jogo com o Benfica?"

A resposta pronta é: Sim!!! Regressar ao Dragão, para mais num jogo explosivo como este, não estava nos meus planos mas... Para agravar o convite colocava-me numa das bancadas dos adeptos do FC Porto... Mesmo assim, aceitei. Teria que ser discreto e, mais importante, regressar inteiro... A única regra que impus a mim mesmo: recusava-me a vestir/usar qualquer peça que me identificasse como adepto do Porto (tudo menos isso...).

Em todas as histórias de espiões, o herói viaja de comboio. Também a ideia de ir e vir a conduzir não me agrada. Então, comboio! Compro bilhete de ida no Alfa Pendular, de regresso ou apanho o regional, ou tento regressar com os comboios especiais que trazem de volta os nossos bravos adeptos que foram ao Dragão (mais à frente falo deles).

Chega 6ª-Feira!

Manhã de trabalho normal e pela hora de almoço, mochila às costas. Um livro, carregador de telemóvel para assegurar as comunicações, alguns víveres e um cachecol do Benfica que, à última hora, fica para trás...

Corrida para apanhar o comboio e viagem tranquila até Campanhã onde chego ao início da tarde. Curiosidade: nessa altura são mais os adeptos assumidos do Benfica ali do que os do Porto! Já se nota o aparato policial que vai receber os nossos adeptos mas, de resto, tudo ainda calmo. Como faltam ainda algumas horas para o jogo, faço-me de turista e aproveito para regressar a sítios de que gosto no Porto.

A 2 horas do apito inicial guardo a mochila num cacifo (também um elemento sempre presente nas estórias de espiões...) em Campanhã e, apenas com o essencial, rumo de metro ao Estádio do Dragão.

No caminho absorvo todos os comentários e "bocas" anti-benfiquistas com um sorriso amarelo, nada de anormal antes de um jogo destes, aqui como em Lisboa. Saio do Metro e desemboco no Estádio do Dragão... Gente, muita gente e nem um único cachecol vermelho, nem sequer uma camisola encarnada. Ao longe chega o nosso autocarro e refugio-me naquele vermelho para seguir em frente. Ali vão os nossos heróis, penso... Que saibam estar à altura!

"Em Roma, sê romano..."

Passo por fora da zona onde se encontram os nossos adeptos, já lá dentro, e oiço o coro de vozes que de fora, tentam abafar os nossos cânticos. Sem sucesso!!! Sorrio e sigo para levantar o meu ingresso. Na fila volto a ouvir os habituais chorrilhos e "mimos" vindos de todos os lados... Percebo hostilidade, agressividade na voz de quem fala do jogo e do adversário do Porto, esta noite... Tudo isso esconde medo... Sim, medo... Mesmo no seu estádio, sem oposição aparente, mesmo depois de terem ganho tudo e a todos, os do Porto vão para este jogo com receio de nós... E isso é bom... Sorrio, desta vez sem me conter...

"Contém-te, pá, não ganhas nada em reagir..."

De repente sinto-me, de facto, no meio de uma aventura de espiões. Como um israelita a passear-se pelas ruas de Teerão ou um americano em plena Moscovo na Guerra Fria, tudo e todos à minha volta, se puderem, estão prontos para me fazer a folha... De início o sentimento é: que raio faço eu aqui e onde me vim meter. Depois sentes que se te misturares e se não mostrares medo, tudo vai correr bem. Depois de alguns minutos em que sentes que consegues, tudo se torna mais fácil!

Já com o bilhete na mão, dirijo-me para a entrada. Só então me apercebo que o convite era para a "Tribuna VIP"... Não me bastava ser um espião inglês em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial...ainda tinha que ir meter-me nas cadeiras da frente para ouvir o Fuhrer ao lado dos seus mais próximos colaboradores... Entro no Estádio e dirijo-me ao meu lugar... que mais virá a seguir???

M.

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